sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Halloween, há 20 anos

Foto: JRF 2008
Há pessoas que nos marcam profundamente. Algumas dessas pessoas são por vezes nossos professores e, além de nos ensinarem, ensinam-nos a ensinar. No decurso da minha vida tive alguns desses exemplos, mas hoje vou falar de dois, os meus dois últimos professores de Flauta. Nos 3 últimos anos do Conservatório, a prof. Katharine Rawdon (USA); na Escola Superior de Música, o prof. Nuno Ivo Cruz.
Há pouco mais de 20 anos, acabados de chegar da Holanda, trouxeram na sua bagagem novas ideias e conhecimentos que mudaram a forma de tocar e de ensinar Flauta em Portugal (curiosamente, eram na altura um casal). Dos dois absorvi quanto pude da sua arte, mas de cada um a sua forma de ensinar. Da Katharine fiquei a perceber a ternura e o afecto que um professor tem pelos seus alunos, o orgulho em vê-los progredir, e como isso ajuda na motivação para trabalhar. Sei por palavras suas, a alegria que lhe dá encontrar agora os seus alunos já como professores, e sei pela sua presença, a forma como gosta de continuar a acompanhar o nosso trabalho.
Do Nuno, aprendi a objectividade e sistematização do trabalho. Tantas vezes estou a ensinar os meus alunos e, perante um determinado problema, parece que oiço as palavras que ele me dizia sobre como o resolver. E transmito-as, agora já à luz da prática que fui ganhando na forma de as transmitir. Dou graças pela sorte que tive em formar-me com estes dois professores!
Mas por que surge isto no Dia das Bruxas (Halloween)? Bom, é que há 20 anos esse casal de professores juntou em sua casa vários dos seus alunos, e ofereceu uma festa com uma ementa de Halloween tipicamente americana! A tarte de abóbora, as bebidas típicas para a acompanhar, etc. E acima de tudo: a alegria de quem sabe que ser professor é muito mais do que transmitir conhecimentos a um aluno.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

1000!

Foi atingida a meta dos mil visitantes!
Ficou registada nesta hora:

Visitor's Time:
30 Oct 2008, 13:55:06
Visit Number:
1,000

Gostava de saber quem foi o 1000º!

Este Blogue

Quadro de Robert Schefman
Será que neste blogue só se fala do supérfluo? Apetecerá perguntar a quem ler sobre vinhos, filmes, livros, poemas, música, etc. Tanta miséria que vai pelo mundo e é disto que se trata aqui?
Precisamente! Sobre os males do mundo já a Net está inundada. Este blogue quer proporcionar pequenos momentos de paragem (as reflexões) e depois levar a todos os amigos a arte, esse bem que nos parece supérfluo, mas sem o qual não podemos viver. Desde sempre o Homem procurou a expressão artística, é ela que nos faz representar a beleza que é viver, é ela que torna o nosso coração mais sensível a tudo o que nos rodeia, é ela que nos consegue dar elevação de espírito, é ela que nos aproxima do humano e do divino. No dia em que a arte desaparecer, já não estaremos a viver, estaremos a sobreviver! Então vivamos com ARTE e com a ARTE.



quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Esperança

POEMA SOBRE A CANÇÃO DA ESPERANÇA

Dá-me lírios, lírios,
E rosas também.
Mas se não tens lírios
Nem rosas a dar-me,
Tem vontade ao menos
De me dar os lírios
E também as rosas.
Basta-me a vontade,
Que tens, se a tiveres,
De me dar os lírios
E as rosas também,
E terei os lírios -
Os melhores lírios -
E as melhores rosas
Sem receber nada,
a não ser a prenda
Da tua vontade
De me dares lírios
E rosas também.


Álvaro de Campos (Fernando Pessoa 1888-1935)

O que estou a ouvir

Vários amigos mostram curiosidade em saber mais sobre o tema "La Folia", do qual falei numa mensagem anterior. Acrescento então que Jordi Savall gravou posteriormente um disco, que complementa o anterior, com peças de compositores que se basearam no famoso tema, ou peças com uma forma semelhante ("outras folias"). Trata-se do CD "Altre Follie, 1500-1750", onde se incluem duas das mais conhecidas obras sobre La Folia: as variações de Corelli e as de Vivaldi. Podem ouvir-se excertos AQUI.

Aconselho ainda a visita a um site dedicado exclusivamente ao tema "La Folia" que, de origem portuguesa (às vezes referida como espanhola), percorreu vários séculos e muitas dezenas de compositores, e ainda hoje inspira novas obras. Sugiro então: http://www.folias.nl/

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Musidanças

Firmino Pascoal, velho amigo e companheiro no desbravar de terreno no panorama musical, fez-me chegar um convite que merece ampla divulgação, sugerindo também a consulta do site http://festivalmusidancas.blogspot.com/ .

Nos dias 6, 7 e 8 de Novembro
Festival Musidanças (Festival de Artes do Mundo Lusófono)
Este ano vai decorrer nas instalações dos Tocá Rufar:
Rua José Vicente Gonçalves, 8 J
Parque Industrial do Seixal
2840 – 068 Aldeia de Paio Pires, Seixal
Tel.: 21 226 90 90 - Fax: 21 226 90 89
e-mail: tocarufar@tocarufar.com

COMO CHEGAR?
coordenadas GPS: 38 36' 01.13" N, 9 04' 19.95" W
Comboio (estação Fogueteiro)
Autocarros
Barcos

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Conta-mo outra vez

Conta-mo outra vez: é tão bonito
que não me canso nunca de escutá-lo.
Repete-me outra vez que o par
do conto foi feliz até à morte.
Que ela não lhe foi infiel,
que a ele nem sequer lhe ocorreu enganá-la.
E não te esqueças de que, apesar do tempo e dos problemas,
continuaram beijando-se cada noite.
Conta-mo mil vezes por favor: é a história mais bela que conheço.

domingo, 26 de outubro de 2008

Um Domingo

Um Domingo igual a muitos outros, acordar à hora habitual, ir à missa habitual, voltar para casa, almoçar, etc. No fundo, continuar pelos caminhos já tantas vezes calcados. Então onde está a novidade, aquilo que deverá fazer com que cada dia não seja o decalque de tantos outros? Está na forma como fazemos todas essas pequenas coisas que compõem o nosso dia, está no amor que entregamos nos nossos pequenos gestos, está em deixarmo-nos surpreender pelas pessoas que encontramos como se fosse a primeira vez, está nas ninharias e vulgaridades onde afinal, se não estagnámos no progresso da nossa vida, deveremos ver algo sempre diferente. Pode nada mudar nas coisas, nos afazeres, nas pessoas. É um facto. Mas se aos nossos olhos tudo permanece igual, então nada mudou em nós. Dou um exemplo: um quadro. Olhamos para ele e tudo está lá sempre na mesma. Mas se nós aprendermos algo sobre história da arte, sobre pintura, se nos cultivarmos, esse quadro passará a ser visto por nós de uma forma diferente, começamos a ver nele algo que nunca vimos antes. Assim são os dias da nossa vida, quão iguais nos parecem e tão diferentes os deveríamos ver.

A título de ilustração, dou aqui o link de algo que possivelmente até já vos chegou por e-mail, a Guernica, de Picasso, vista em 3D. Tudo parecer novo e tudo esteve sempre lá. Então visitem: http://www.lena-gieseke.com/guernica/movie.html

sábado, 25 de outubro de 2008

O que estou a ouvir

Nas mensagens intituladas "O que estou a ouvir", EU CONTO sempre algo sobre CDs que nesse dia me encantaram. Não necessariamente os mais recentes. Por vezes são discos que até já ouvi antes e que, ao ouvir de novo, me parece merecerem ser mais divulgados.



Hoje apresento-lhes a música de Hovhaness (1911–2000), compositor que de uma forma erudita antecipou a chamada música "New Age" ou "World Music". A sua música transmite uma quietude, uma elevação espiritual, que não hesitaria em recomendá-lo para quem a procura esse estado de espírito. Mas não tem apenas essa qualidade, é música do séc. XX que não procura chocar, desassossegar, como outras que tiveram essa missão. Nela encontramos linguagens usadas por culturas milenares e sonoridades a que não estamos habituados no mundo ocidental. É fácil gostar da sua música, não requer qualquer preparação especial de maior erudição, acaba por se tornar simples de ouvir. Aconselho-a em pequenas doses de cada vez, ouvindo apenas uma obra em cada sessão (com excepção para as pequenas obras) e não logo todo o CD. Até porque o CD que aqui recomendo tem obras quase hipnóticas: Music of Alan Hovhaness - Yolanda Kondonassis (Harpa). Nele podemos ouvir as obras:
"Spirit of Trees", Sonata for harp & guitar, Op. 374
Concerto for harp & string orchestra, Op. 267
"Upon Enchanted Ground", for flute, cello, giant tam-tam & harp, Op. 90
Sonata for harp, Op. 127
"The Garden of Adonis", suite for flute & harp (or piano), Op. 245


Oiçam, e usufruam da seneridade e beleza que esta música transmite.
Recomendo ainda ler as notas biográficas na Wikipedia
Outro CD a ouvir também: Hovhaness - Mysterious Mountains

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Cristina Branco

Encontrámo-nos num CD há 5 anos atrás. Preparava eu um programa para os Essências do Café, grupo que refiro na mensagem Chá dos 5, um programa com canções cuja letra fosse de Ary dos Santos. O CD a que me refiro era Corpo Iluminado. O fado Meu Amor, Meu Amor (Meu Limão De Amargura), foi uma das experiências mais intensas das minhas fugazes incursões neste género musical. O que ouvi foi uma voz plena de expressão, sem necessitar rebuscar muito na ornamentação que agora parece tornar-se moda, uma dicção límpida, e um acompanhamento instrumental belíssimo. Comparei com o tema originalmente cantado por Amália Rodrigues; Cristina Branco era, neste fado, notoriamente melhor. Foi para mim uma fonte de inspiração para todo o trabalho e tornou-se num dos fados da minha vida. Conto noutra altura falar aqui de novos fadistas, e do meu fadista: Carlos do Carmo.
Para saber mais sobre Cristina Branco, ficam aqui dois sítios:

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O que estou a ouvir

Há um instrumento que tem o condão de me transmitir ora tranquilidade, ora fulgor, com uma sonoridade sedosa e aconchegante. Trata-se da Viola da Gamba. Para falar deste instrumento sem entrar no capítulo da organologia, nada melhor que ouvir as explicações de Jordi Savall, um dos grandes intérpretes e investigador da Viola da Gamba.
Entretanto sugiro uma espreitadela no Filme "Todas as manhãs do mundo", onde se fala da vida de grandes músicos e compositores deste instrumento, AQUI a música no filme, AQUI por quem a tocou na realidade (Jordi Savall, claro! Ainda dedicarei um artigo a este grande músico).
E por fim o CD: "La Folia, 1490-1701"(La Folia é um tema musical português, utilizado exaustivamente para variações por dezenas de compositores, em vários séculos). É possível ouvir alguns excertos AQUI (encontra-se à venda na FNAC por um preço inferior ao apresentado nesse site).

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

E por vezes

Por vezes perdemos a noção do tempo, e tantas vezes não temos a noção do valor de um segundo. Na mensagem anterior sugeri parar para uma música, nesta faço-o para um poema.



E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos. E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Tranquilidade

Parar um pouco. Desligar em algum momento do dia. Nem que seja por breves instantes.
Desligar os problemas, o trabalho, os gostos ou desgostos.
Desligar dá saúde, renova a energia.
Convencido? Agora oiça este belo tema de John Dowland (Lachrimae Antiquae), antes de voltar a ligar:

Intérpretes: Jordi Savall · Hespérion XX



Noutra paragem, também pode ouvir a versão cantada:
Flow my tears (Lachrimae)

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Days of wine and roses

Famoso e belo tema que se tornou num standard do Jazz (aqueles temas que servem de base para a improvisação, que no seu conjunto formam o Real Book). Pois ouvia eu "Days of wine and roses", e perguntei-me de onde vinha esse título. Ah, afinal existe o filme (1962, Blake Edwards, com Jack Lemmon) e existe o tema musical desse filme (Henry Mancini and Johnny Mercer). Mas este título vem de um belo poema de Ernest Dowson:

They are not long, the weeping and the laughter,
Love and desire and hate:
I think they have no portion in us after
We pass the gate.

They are not long, the days of wine and roses:
Out of a misty dream
Our path emerges for a while, then closes
Within a dream.

Não são duradouros, o choro e o riso,
Amor desejo e ódio:
Penso que não fazem parte de nós depois
Que passamos o portão.

Não são duradouros, os dias do vinho e das rosas:
Saído de um sonho enevoado
O nosso caminho emerge por algum tempo, fechando-se depois
Dentro de um sonho.

(tradução de Cecília Rego Pinheiro)

domingo, 19 de outubro de 2008

Pensar

"O bafo de todas as coisas faz cantar, como flautas, os meus pensamentos" (Rabindranath Tagore). Assim acontece comigo, sou um pensador permanente, sem qualquer pretensão quanto à maior ou menor grandeza e validade desses pensamentos. Nunca fico indiferente ao bafo de tudo o que me rodeia: mesmo que haja ruído à minha volta, faço silêncio dentro de mim... e penso.
"A ESCRITA é a minha primeira morada de silêncio", diz o nosso grande poeta Al Berto. Para mim é a segunda: talvez por não ser escritor, primeiro vêm sempre longos momentos a pensar. Depois, como se tocasse Flauta, procuro neles alguma musicalidade e aqui os escrevo, na esperança de que outros pensamentos completem o meu e assim formem outro... mais profundo, mais completo.

sábado, 18 de outubro de 2008

Um vinho

Vários amigos pediram-me que indicasse mais sugestões de vinhos, principalmente os que apresentem uma boa relação qualidade/preço. Vou procurar fazê-lo então com maior regularidade.
Sendo assim, para alegrar o fim-de-semana:
Domingos Damasceno de Carvalho 2005 (por volta de 8 Eur. nos supermercados)
Como diz a LusaWines, Domingos Damasceno de Carvalho representa a terceira geração de uma família de viticultores que, há mais de 150 anos, produz vinho no Poceirão. Hoje são os netos que tratam deste "bem". Vinho com aroma a frutos pretos maduros, (amoras e ameixas), bem casado com a madeira. No paladar é macio e arredondado, com estrutura equilibrada e elegante. Suave, agradável e persistente. Com carácter e forte personalidade. Acompanha, no prato, javali, borrego e cabrito. Queijos de cabra ou ovelha de Azeitão ou Seia. Medalha de Ouro, V Concurso, CVR - Peninsula de Setúbal 2004. Enólogos Nuno Cancela de Abreu e Hélio Plácido Rodrigues.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Nunca é tarde demais

Caminhar faz-se caminhando, viver faz-se vivendo. Vivendo activamente.
Fiquei a pensar nisto depois de ver o filme "Nunca é tarde demais" ("The Bucket List"), no qual contracenam Jack Nicholson e Morgan Freeman. Só quase no fim da vida é que viram o que ainda lhes faltava fazer, mas fizeram-o. Esta é uma das mensagens do filme. Outra delas é a relatividade das coisas, à medida que passa o tempo da nossa vida. Pequenos gestos que se podem tornar grandes, ficam tantas vezes adiados até um dia, ou até nunca.
Há ainda outra importante mensagem neste grande filme: cada vez que alguém cruza a sua vida com a nossa, dêmos importância a esse facto. Nunca sabemos que importância essa pessoa poderá vir a ter para nós ou nós para ela. Como cristão direi até: nunca sabemos porque Deus a colocou no nosso caminho. Vale a pena procurar descobrir. A isto eu chamo viver activamente, não ficar passivamente à espera de ver o que acontece. Foi assim na tela e é assim na vida.
Este filme, de 2007, está agora à venda em DVD e vale muito a pena ver ou rever.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Disco

Sou do tempo em que as discotecas estavam na moda. Sexta-feira à noite, Sábado à tarde (sim, tínhamos "febres de Sábado à tarde") ou à noite (depois das 10.00 h já se dançava), lá estávamos caídos. Todos nos conhecíamos, eram verdadeiros momentos de convívio. Não era só "abanar o capacete".
Alguns traziam do estrangeiro os LPs que só mais tarde chegariam a Portugal. Foi aí que ouvi pela 1ª vez os Dire Straits, os Buggles, e em pt, os Street Kids, Jáfumega, Rui Veloso... era fabuloso. Havia uma cultura Pop-Rock que se vivia (convivia) saudavelmente, através da dança. Chegámos a fazer a nossa própria discoteca no anexo da casa de um conhecido médico de Bragança, que às vezes nos interrompia porque estava a operar! E tal era a quantidade de novidades musicais, que chegámos a fazer concorrência às duas discotecas públicas. A certa altura convidaram-nos a levar os discos para uma delas, oferecendo-nos entrada livre e direito a uma bebida!

Mas não era só isto que se fazia numa fria terra do norte de Portugal. Foi aí que fiz cursos de Canoagem, Alpinismo, Aeromodelismo, Animação Musical. Foi aí que, como animador cultural, andei pelas aldeias (juntamente com grandes amigos, agora também leitores deste blogue) tocando, fazendo de palhaço, fazendo teatro, fantoches, projectando cinema, levando alegria a um povo que sempre nos acolhia de braços abertos (e adegas... e fumeiros!), procurando partilhar connosco tanto quanto partilhávamos com ele. Eram assim umas "discotecas" tradicionais onde em vez de bolas de cristal havia salpicões e alheiras pendurados, e as luzes vinham do crepitar de uma enorme lareira. Boas, as discotecas em Bragança!
Sobre os quatro anos da minha adolescência que ali passei ainda terei muito para contar em futuras mensagens.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Um livro e um poema

Depois de um Verão pleno de poesia, tinha eu 18 anos, apresentaram-me um poeta: Pablo Neruda. Falecera há dez anos. Leram-me em castelhano um dos poemas do seu livro Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada. Fiquei com ele escrito numa folha de papel de carta.
Mais tarde comprei o livro. Escrevi assim na primeira página:

"Se eu não fosse músico era poeta.
Se fosse poeta gostaria de cantar o amor como ele."

Hoje é ainda um livro de onde por vezes tomo um poema, talvez como quem toma uma café para lhe aquecer a alma. Ou para que melhor circule o sangue na "veia artística".
Livro belo. A Net está inundada de poemas seus, mas este é um daqueles livros que é bom sentir. Poemas tão belos, não elegerei um favorito. Mas transcrevo aqui um:

Para o meu coração basta o teu peito
para a tua liberdade as minhas asas.
De minha boca chegará até ao céu
o que adormecido estava na tua alma.

Tu trazes a ilusão de cada dia.
Chegas como o orvalho nas corolas.
Com tua ausência escavas o horizonte.
Eternamente em fuga com a onda.

Eu disse que no vento ias cantando
como os pinheiros e como os mastros.
Como eles tu és alta e taciturna.
E logo entristeces, como uma viagem.

Acolhedora como um velho caminho.
Povoam-te ecos e vozes nostálgicas.
Eu despertei e às vezes emigram e fogem
pássaros que dormiam na tua alma.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

A Net

Alguns dizem que a Net isola as pessoas, outros dizem que as aproxima. EU CONTO a minha opinião: acho que a Net afasta efectivamente de algumas coisas e aproxima de outras. Pela minha experiência pessoal, vejo menos televisão, ou seja, só vejo na televisão o que me interessa. Tenho encontrado na Net um meio de estar informado sobre o que há de novo na arte, na cultura, na tecnologia, no mundo. Na Net, tal como na televisão comecei a filtrar o que realmente me interessa, deixei de "navegar" ao sabor das ondas, como aconteceu na fase inicial. Através do correio electrónico mantenho um contacto mais próximo com a família, com os amigos, com os colegas e com os alunos (para lá das facilidades que proporciona como ferramenta de trabalho).
Usando o Myspace, blogues e os meus sites, tenho marcado presença num espaço ainda por conquistar. Falando mais particularmente deste blogue, acabou por fazer com me contactassem muito mais. E não só por mail, mesmo pessoalmente. Tem sido vulgar cruzar-me com um colega e ele dizer-me uma opinião sobre um CD, sobre um livro, sobre uma reflexão. Ainda hoje, já no exterior da escola, estávamos três colegas a opinar sobre vinhos!
É curioso que comecei a ter alguns leitores assíduos, e não apenas os que o fazem de passagem. Isto entusiasma-me ainda mais a continuar a escrever. E por que o faço? Porque tantas vezes venho no carro a pensar sobre diversos assuntos (às vezes até na sala, ou já na cama) e chego a conclusões que acho que não devo guardar só para mim. Da mesma forma que um vinho tem mais sabor quando é partilhado, ou se vibra mais com uma música quando se ouve com alguém que comunga (ou procuramos fazer comungar) dos nossos gostos, também o mesmo acontece com as ideias.
O meu único lamento é que por vezes me fazem observações tão interessantes, que deveriam estar aqui nos comentários e assim serem partilhadas com todos os que aqui vêm. Vou começar a dizer: "interessante o que disseste, escreve-o no meu blogue, há outros que gostarão de o ler". Como costumo dizer, EU CONTO, contem vocês também.

O que estou a ouvir

Desde a sua redescoberta por volta de 1930, tornaram-se das obras mais gravadas de sempre: trata-se dos Concertos para Violino Op. 8, Nos. 1-4, de Vivaldi, mais conhecidos apenas por "As Quatro Estações". Tenho já diversas interpretações na minha colecção de CDs (e até em LP). As minhas referências têm sido a de Nils-Erik Sparf (BIS-CD-275), e a de Enrico Onofri (Teldec 97671). Eis que me deparo com uma nova gravação: a de Amandine Beyer (Zig Zag Territoires CD ZZT080803). "Bem, dificilmente acrescentará algo de novo ao que eu conheço desta obra", pensei eu. E não é que me surpreendeu! Primorosamente executada, com uma grande novidade nas articulações, uma bela conjugação de clareza e musicalidade. É absolutamente uma outra visão desta obra. Não hesito em colocar esta interpretação a par das melhores. Fiquei encantado!
O CD tem ainda dois concertos que nos chegam ao ouvido em estreia mundial. Fortemente recomendado.
Não deixem de visitar o site de Amandine Beyer se quiserem deliciar-se com outras belíssimas obras que ela nos dá a ouvir, bem como o site da quase desconhecida (mas magnífica!) etiqueta Zig Zag Territoires, onde encontrarão artistas de primeira linha e muitas gravações premiadas.

sábado, 11 de outubro de 2008

Corazón partío

Faz hoje uma semana que numa conversa entre amigos, num casamento, surgiu a interrogação: Porquê tantos divórcios? Fui pensando durante a semana.
Há imensas explicações de carácter sociológico, psicológico, etc. No entanto parece-me que o cerne reside aqui: o casal decide casar porque entre eles há amor, há uma complementaridade, há uma convergência no essencial, nos objectivos que desejam para a sua vida. Mas o dia a dia não é feito só de grandes coisas. A maior parte dos conflitos e divergências surge na dificuldade em gerir as pequenas coisas que fazem parte do todo da sua vida em comum. Assim se vai desgastando a relação matrimonial; o casal vai perdendo o seu horizonte, vai esquecendo o fundamental, aquilo que os uniu.
Como evitar? Estar alerta, prevenir acima de tudo. Nunca pensar que a conquista foi feita num momento: ela tem que ser continuada. Cada um ceder um pouco, nunca pensando que a razão está toda do seu lado. Dialogar: se o diálogo for cortado pode atingir-se o ponto sem retorno.
Sim, é preciso encontrar os pensos para curar esses corações partidos...! Isto faz-me lembrar a canção de Alejandro Sanz, "Tiritas pa este corazón partío", até a letra está muito engraçada! Se gostarem de Salsa, aproveitem para "temperar" a vossa relação (Sabor!).

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Jacinta... ou Jazzinta

Estava eu a arrumar alguns CDs de Jazz, e vem-me às mãos um CD "maqueta" que a Jacinta me tinha enviado dos Estados Unidos, para mostrar os trabalhos que estava a fazer na altura (2002). Dois anos antes, num jantar em casa de um amigo comum, já eu lhe tinha dito que não havia no Jazz português uma voz como a dela. Depois de ouvir a maqueta fiquei ainda mais com essa certeza: ela seria a nossa diva do Jazz. E é!
Tem sido interessante acompanhar todo o seu percurso (conhecemo-nos há 22 anos!) e não posso deixar de sentir orgulho no sucesso que vem conquistando, agora com três CDs gravados, a nossa artista da Blue Note!
Vale a pena visitar o seu site JACINTA JAZZ, o seu MySpace ou o Youtube. E depois, comprar os CDs!
Bons sucessos, amiga!

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Vinda do Céu, vindo da Céu

Um comentário à minha mensagem No meio do silêncio parece vindo do Céu... lembrou-me de como associamos os afectos ao que ouvimos, comemos, bebemos, aprendemos, vivemos.
Curiosamente, Isabel Stilwell referia isso ontem no seu programa Dias do Avesso, na Antena 1, que "a memória e a aprendizagem só se faz através dos afectos". Gostei de ouvir isso porque é o que tenho procurado fazer enquanto professor.
Voltando ao comentário à minha mensagem, é magnifico como anos mais tarde, reviver algo traz à memória os afectos. Não pude deixar de me recordar também das vindimas com os meus avós, do esmagar das uvas, do carinho que o meu avô punha na sua arte intuitiva e bela, do prazer que tinha em ter-me junto dele a fazer tudo isso. Nessa quinta, na encosta de um monte, em socalcos, havia videiras, árvores de fruto, aromáticos morangos selvagens, e o amor de quem cuidava com gosto do pouco de onde se fazia muito.
Depois de feito o vinho, e já no tempo mais frio das enormes geadas de Bragança, vinha a altura de fazer a aguardente. Lindo, aquele gota a gota que saía do alambique, e que de quando em quando se punha nos lábios para controlar o equilíbrio do aroma. A alguma dela era adicionada a chamada "ginja garrafal", para produzir a conhecida ginginha. Depois do S. Martinho lá se provava o vinho. Ah, mas tudo nascia das nossas mãos e isso dava-lhe outro sabor... sem dúvida que estou de acordo, estes produtos e o que a eles associamos têm 20 valores. Obrigado, Maria do Céu. Gostei muito do seu comentário e acho que outros que o leiam reviverão memórias de tempos passados mas com afectos sempre presentes.

O que estou a ouvir

Sempre fui apreciador da música para Órgão (de tubos). É um instrumento com uma sonoridade fascinante, capaz de produzir timbres delicados nos registos aflautados, ou surpreender-nos com o seu poder arrebatador no registo mais cheio, chamado Principal.
Oiço-o habitualmente na música barroca, onde consegue dar-me uma enorme sensação de elevação espiritual. Fiquei surpreendido ao ouvir música contemporânea para este instrumento, capaz de me proporcionar idêntica satisfação. Ouvi-a no CD "Cantus ad pacem", do compositor Peteris Vasks (Letónia), editado pela Wergo em 1 de Setembro. Conhecia outras obras deste compositor, mas não as suas obras para Órgão. Podem ouvir um minuto de cada faixa AQUI, mas tão curto tempo não dá para ter uma ideia de como se desenvolvem as peças. Recomendo que comecem por ouvir a faixa Nº 5: Te Deum. Ouvir isto num bom sistema de som (audiofilia, hei-de falar disso!) é de fazer levantar aqueles pelinhos da nuca! Comprem, ou venham ouvir comigo.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

No meio do silêncio

Às vezes é no meio do silêncio
Que descubro as palavras por dizer.

Dizia Maria Guinot na sua canção Silêncio e Tanta Gente, e assim também acontece comigo: é no silêncio da noite que melhor oiço o que me vai na alma.

Então Eu conto algo sobre um tema de que ainda não falei, um dos meus grandes gostos: a enofilia. Defino-a como a arte de apreciar a enologia. Explico melhor: a enofilia é a apreciação dos vinhos, a enologia a ciência (e também arte) de produzir os vinhos.
Aprecio um vinho como uma obra de arte, tal como um pintura ou uma obra musical. Há tanta arte envolvida na sua produção! É pelo valor que lhe dou que não me importo de por vezes despender uma quantia considerável para conhecer alguns. E não se trata de beber, chamarei antes degustar: ver, cheirar e provar.
Neste momento, regressado de um ensaio, acompanha-me um Porto Cockburn's Tawny 20 anos (Director's Reserve), muito difícil de encontrar por aí, mas que há 5 anos repousava na minha cave com mais 2 irmãs (nunca vem só uma, depois é difícil voltar a arranjar!). É um deleite ir descobrindo nele os aromas a café, mel, caramelo, frutos secos, algumas notas de citrinos... e um final que parece não querer deixar-nos a boca. De 0 a 20? 19!

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Um livro

Há livros que ficam para toda a vida. "O Principezinho" de Antoine de Saint-Exupéry, vem à minha memória frequentemente. Há nele citações para quase todos os momentos da nossa vida.
Depois de uma recente conversa com uma também recente amiga, fiquei a pensar no que cada um de nós encerra em si. Há uma vida, um ser que não o é só naquele momento; tem toda uma história por trás que está oculta aos nosso olhos. É preocupante que lidemos, tantas vezes diariamente, com colegas, amigos, alunos, etc., sem procurar perceber quem temos diante de nós. Seremos mais humanos se pensarmos assim: uma coisa é ver alguém, outra coisa é sentir alguém. Sentir alguém é ver para lá do que os nossos olhos vêem! O Principezinho dá a receita: "Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos...".
Depois vem o passo seguinte (é exactamente a frase seguinte no livro!), que tem a ver com o sair do nosso individualismo e dar ao outro o espaço e o tempo que merece, valorizando-o e fazendo-o sentir o valor que tem para nós: "Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante".

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Dia Internacional da Música

Anualmente, no dia 1 de Outubro, comemora-se o Dia Internacional da Música. Idealizado em 1975 pelo grande músico Yehudi Menuhin, pretende-se com ele:

  1. a promoção das artes musicais entre todos os sectores da sociedade;
  2. a aplicação dos ideiais UNESCO sobre: a paz e a amizade entre os povos, a evolução das suas culturas, do intercâmbio de experiências e da mútua apreciação dos seus valores estéticos;
  3. a promoção de actividades do Conselho de Música Internacional, das suas organizações internacionais e comités nacionais, tal como o seu programa estratégico em geral.

Mais detalhes no site da UNESCO.