quarta-feira, 18 de março de 2009

Se

Pintura: Stephen Guyatt - If
Se és capaz de manter o sangue-frio
enquanto outros à tua volta o estão perdendo
e deitando-se as culpas;

Se és capaz de fiar-te em ti próprio
quando todos duvidam de ti
- e no entanto perdoares que duvidem;

Se és capaz de esperar sem cansar a esperança,
e de não caluniar os que te caluniam,
e de não pagar ódio por ódio
- tudo isto sem dar-te ares de modelo dos bons;

Se és capaz de sonhar
sem que o sonho te domine,
e de pensar, sem reduzir o pensamento a vício;

Se és capaz de afrontar o Triunfo e o Desastre
sem fazer distinção entre estes dois impostores;

Se és capaz de sofrer que o ideal que sonhaste
o transformem canalhas em ratoeiras de tolos;
ou de ver destruído o ideal da vida inteira
e construí-lo outra vez com ferramentas gastas;

Se és capaz de fazer do que tens um montinho
e de tudo arriscar numa carta ou num dado,
e perder, e começar de novo o teu caminho,
sem que te oiça um suspiro quem seguir a teu lado;

Se és capaz de apelar para músculo e nervo
e fazê-los servir, se já quase não servem,
aguentando-te assim quando nada em ti resta,
a não ser a Vontade, que te diz: aguenta!

Se és capaz de aproximar-te do povo e ficar digno,
ou de passear com reis conservando-te humilde;

Se não pode abalar-te o amigo ou inimigo;
se todos contam contigo e não erram as contas;
se és capaz de preencher o minuto que foge
com sessenta segundos de tarefa acertada;

Se assim fores, meu filho, a Terra será tua,
será teu tudo o que nela existe,
e não receies que to tomem...

Mas (ainda melhor que tudo isto)
se assim fores, serás um homem!
(1865-1936)
(Tradução de Agostinho de Campos)

1 comentário:

  1. Olá José Rui, boa tarde. Hibernei! Daí andar desaparecida.
    Que feliz me faz ver por cá Kipling, que considero um Sábio!
    Obrigada por me /nos relembrar!

    Bj

    Maria Mamede

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