sábado, 31 de outubro de 2009

A violeta mais bela que amanhece

A violeta mais bela que amanhece
No vale, por esmalte da verdura,
Com seu pálido lustre e fermosura,
Por mais bela, Violante, te obedece.

Perguntas-me porquê? Porque aparece
Em ti seu nome e sua cor mais pura;
E estudar em teu rosto só procura
Tudo quanto em beldade mais florece.

Oh luminosa flor, oh Sol mais claro,
Único roubador de meu sentido,
Não permitas que Amor me seja avaro!

Oh penetrante seta de Cupido,
Que queres? Que te peça, por reparo,
Ser, neste vale, Eneias desta Dido?
Luís de Camões
(c. 1524-1580)

Dido e Eneias, de Henry Purcell (1659-1695)
No final do 1º minuto poderão ouvir uma das mais belas árias da história da música.
Nesta brilhante interpretação:
Dido - Stéphanie d'Oustrac; Les Arts Florissants dirige William Christie.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Porto dos meus amigos

Foto de minha autoria
Epígrafe

As pontes multiplicam o cansaço. Porém, há duas
margens para o deslumbramento ___nas cidades
felizes, é costume atravessar o rio sem lhe tocar.


Manuela Parreira da Silva (1950)
(in O Álbum de Vishnu)

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Songs of Freedom

A minha amiga Jacinta acaba de editar um novo CD na Blue Note.
«Songs Of Freedom - Hits From The 60's, 70's And The 80's» assinala o regresso de Jacinta à Blue Note, editora onde se estreou em 2003.
O álbum, que foi lançado no dia 26 de Outubro, foi apresentado no início deste ano no Teatro São Luiz e durante nove noites consecutivas teve lotação esgotada.

Neste novo projecto, Jacinta interpreta grandes clássicos do pop e do jazz das décadas de 60, 70 e 80. Bob Marley, Nina Simone, Bee Gees, Beatles, Beach Boys ou Stevie Wonder são alguns dos artistas dos quais a nossa Diva escolheu temas para integrar o disco.

«Fomos para estúdio um único dia, no meu aniversário. Desejando passar a veracidade da música e combater o excesso de produção a que toda a música é sujeita nos dias de hoje, levámos connosco o João Paulo Nogueira, nosso técnico de estrada, e a Joana Pereira, que, na captação directa do som e na regie, foram garantindo que o que era gravado era genuíno e não se afastava muito das actuações ao vivo. Juntámos o piano com o saxofone e a voz uma única vez, ficando o registo da descoberta musical de cada intérprete», assim afirmou Jacinta a propósito do novo projecto discográfico, «Songs Of Freedom - Hits From The 60's, 70's And The 80's».

Eis aqui o alinhamento do álbum que pode ser ouvido no seu MySpace:

1. «Redemption Song»
2. «I wish I knew how it would feel to be free»
3. «How Deep is your love»
4. «Surfin' USA»
5. «And I Love Her»
6. «I Got You (I Feel Good)»
7. «Georgia on My Mind»
8. «My Baby Just Cares for me»
9. «Don't Worry Be Happy»
10. «Sir Duke»
11. «Where The Streets have no name»
12. «Redemption Song»

"A Jacinta apresenta uma voz e um estilo muito próprios em "Songs of Freedom". Ela conseguiu imprimir um estilo pessoal e muito original a um conjunto diversificado de clássicos do pop e do jazz" (Bruce Lundvall, Presidente do Grupo Blue Note)

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Playing For Change


Playing For Change
: A paz através da música

Playing For Change Foundation, é uma organização sem fins lucrativos que ajuda a levar a música para a vida dos jovens desfavorecidos.
Fiquei particularmente sensibilizado com um vídeo extraído de um DVD realizado por esta organização, que mostra como a música quebra fronteiras, une os povos e se torna uma linguagem universal. Vele a pena conhecer! Aqui o partilho:

Stand by Me (o famoso tema de Ben E. King)

domingo, 25 de outubro de 2009

Just perfect!

Ana Paula surpreendeu-me com o prémio "Esse blog é VIP" que agradeci no comentário da mensagem anterior. Aqui dou notícia dessa distinção que muito me alegra! Só pode responsabilizar-me ainda mais nas minhas escolhas e reflexões, e aumentar o meu entusiasmo na sua partilha!

Obrigado, Ana Paula!

sábado, 24 de outubro de 2009

Ao longe os barcos de flores

Foto: Kerry Kriger - O sol da meia-noite, Stikkysholmur, Islândia.
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila,
- Perdida voz que de entre as mais se exila,
- Festões de som dissimulando a hora

Na orgia, ao longe, que em clarões cintila
E os lábios, branca, do carmim desflora...
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila.

E a orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora,
Cauta, detém. Só modulada trila
A flauta flébil... Quem há-de remi-la?
Quem sabe a dor que sem razão deplora?

Só, incessante, um som de flauta chora...

(1867-1926)

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Moscatel de Setúbal

Depois do Vinho do Porto, ou talvez até a par dele, o Moscatel de Setúbal é um dos nossos grandes vinhos fortificados. Algumas garrafas vão tomando lugar na minha garrafeira, exactamente a par dos Portos! Vou coleccionando, mas todas aguardam o momento e companhia certas!

Desde algum tempo que o Moscatel de Setúbal Bacalhôa, domina o mercado da grande produção, com uma qualidade/preço imbatível (geralmente à venda passados 10 anos da colheita) (aprox. 13 €).

Mas hoje quero destacar aqui um moscatel diferente, saído das mãos de Soares Franco, um desses vinhos que tem uma produção mais limitada e que exprime o saber deste enólogo: trata-se do Domingos Soares Franco Colecção Privada Moscatel Roxo 1998 (aprox. 19 €). De aroma muito complexo, sugerindo passas, frutos secos, ameixa, algum bálsamo à mistura, tudo muito bem proporcionado. Cremoso na boca e com um longo final.

Pode provar-se também Domingos Soares Franco Colecção Privada Moscatel 2003 (aprox. 16 €): aroma muito intenso e elegante, com notas de passa de uva, figo seco, resinas, casca de laranja, num todo bastante complexo e rico. Na boca é untuoso, substancial, com sugestões de citrinos e cacau. Elegante, com um grande final, longo e cheio de aromas.

Então e o Moscatel do Douro? Perguntarão. Há ainda um longo caminho a percorrer!.. Durante muito tempo produziram-se apenas moscatéis de qualidade mediana, sem grandes pretensões, só bebíveis bem frescos (10ºC), como aperitivo. A Quinta do Portal (12€) lançou o seu reserva, já de qualidade considerável, e o conhecido Favaios lançou recentemente o seu 10 anos (16€), num lote capaz de causar já alguma surpresa.

Um conselho: O Porto Vintage ou LBV para o queijo, o Tawny ou Colheita velhos para a conversa, tal como o Moscatel velho, e o Moscatel mais recente para acompanhar a sobremesa (ligeiramente fresco, pelos 16ºC).

Os links que aqui coloco que apontam para a Garrafeira Nacional, não são inocentes! Aprecio muito esta loja, que também vende online, é especializada, e pratica preços idênticos aos das grandes superfícies!

domingo, 18 de outubro de 2009

A presença mais pura



Nada do mundo mais próximo
mas aqueles a quem negamos a palavra
o amor, certas enfermidades, a presença mais pura
ouve o que diz a mulher vestida de sol
quando caminha no cimo das árvores
«a que distância da língua comum deixaste
o teu coração?»

A altura desesperada do azul
no teu retrato de adolescente há centenas de anos
a extinção dos lírios no jardim municipal
o mar desta baía em ruínas ou se quiseres
os sacos do supermercado que se expandem nas gavetas
as conversas ainda surpreendentemente escolares
soletradas em família
a fadiga da corrida domingueira pela mata
as senhas da lavandaria com um "não esquecer" fixado
o terror que temos
de certos encontros de acaso
porque deixamos de saber dos outros
coisas tão elementares
o próprio nome
Ouve o que diz a mulher vestida de sol
quando caminha no cimo das árvores
«a que distância deixaste
o coração?»

Aceitei o desafio da Eduarda para encontar uma música que ilustrasse "A presença mais pura". Pensei num tema com grande simplicidade, clareza harmónica, que à pergunta "a que distância deixaste o coração?", nos levasse a interrogarmo-nos, e no final da sua audição nos fizesse sentir mais próximo daqueles que tantas vezes ignoramos, daqueles que o acaso (?) coloca no nosso caminho, e escutar no nosso coração o apelo da "Mulher vestida de sol".

Sobre o compositor, Arvo Pärt, pode ler-se o que referi na mensagem de 08.05.09. Sobre a peça, Spiegel im Spiegel, pode ler-se algo AQUI.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Ode à esperança


Crepúsculo marinho,
no meio
da minha vida,
as ondas como uvas,
a solidão do céu,
me enches
e desbordas,
todo o mar,
todo o céu,
movimento
e espaço,
os batalhões brancos
da espuma,
a terra alaranjada,
a cintura incendiada
do sol em agonia,
tantos
dons e dons,
aves
que acodem a seus sonhos,
e o mar, o mar,
aroma
suspendido,
coro de sal sonoro,
enquanto
nós,
os homens,
perto da água,
lutando
e esperando
junto ao mar,
esperando.

As ondas dizem para a costa firme:
"Tudo será cumprido".
Pablo Neruda (1904-1973)
in Odas Elementales.

Aqui vou construindo o meu álbum de poemas, aqueles que encontram mais significado na minha vida.
Neruda está presente desde a minha juventude.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Os amigos



Esses estranhos que nós amamos
e nos amam
olhamos para eles e são sempre
adolescentes, assustados e sós
sem nenhum sentido prático
sem grande noção da ameaça ou da renúncia
que sobre a luz incide
descuidados e intensos no seu exagero
de temporalidade pura


Um dia acordamos tristes da sua tristeza
pois o fortuito significado dos campos
explica por outras palavras
aquilo que tornava os olhos incomparáveis


Mas a impressão maior é a da alegria
de uma maneira que nem se consegue
e por isso ténue, misteriosa:
talvez seja assim todo o amor

José Tolentino de Mendonça (1965)
De Igual Para Igual


Já por aqui passou este poema, mas fez sentido que agora passasse novamente.
Ilustrei-o com esta bela peça de Couperin (1668-1733):
Les Barricades Mystèrieuses (no Cravo, Scott Ross)

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Revelar


Costumam revelar a amizade, o amor, àqueles que amam ou de quem são verdadeiros amigos? "Ah, eles sabem, sentem-o claramente!" - é um argumento habitual. Mas na verdade todos anseiam essa revelação, esse "conta com a minha amizade" ou "é a ti que eu amo", ouvi-lo vezes sem conta ao longo da vida, mesmo que se saiba que assim é.
Repetir esse voto é também a sua renovação. E a amizade, o amor, querem-se sempre renovados, nunca estagnados. Repetir essa afirmação é bom para o outro, é bom para nós. Que sentido tem a vida se não tivermos a quem o dizer? E se não ouvirmos de alguém esse "preciso de ti"?
A amizade e o amor são um contínuo dar a vida ao outro, e recebê-la dele.
JRF

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Musical(idade)


Depois de trabalhar até tarde num rol de partituras, ouvi e sosseguei com este tema de Sakamoto, enquanto tomava Um Chá no Deserto. E gostei... da música e do Chá! Trouxe de lá um poema, escrito por AnaMar, para o Dia Mundial da Música:

E(n)levo
a
melodia rente ao coração.

Maestro que sabe de cor
sem ler
a
arte
e
técnica
de combinar os sons
sem
pauta
cem
notas
uma
clave de sol.

Orquestra
os
s
e
n
t
i
d
o
s
à flor da (minha) pele.

Música pelos teus dedos tocada...

Sinfonia ritmada
romance
paixão
aventura
tatuagem de papel.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Os amigos

no regresso encontrei aqueles
que haviam estendido o sedento corpo
sobre infindáveis areias
tinham os gestos lentos das feras amansadas
e o mar iluminava-lhes as máscaras
esculpidas pelo dedo errante da noite
prendiam sóis nos cabelos entrançados
lentamente
moldavam o rosto lívido como um osso
mas estavam vivos quando lhes toquei
depois
a solidão transformou-se de novo em dor
e nenhum quis pernoitar na respiração
do lume
ofereci-lhes mel e ensinei-os a escutar
a flor que murcha no estremecer da luz
levei-os comigo
até onde o perfume insensato de um poema
os transmudou em retoma e resignada ausência
(1948-1997)

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A terra que nós somos

Terra. Nós somos como ela. Cai em nós a semente trazida pelo vento de um encontro, de uma conversa, de uma leitura, de uma mensagem, de uma música: somos terreno para tudo germinar em nós.
Que nasce dessa semente? Dará fruto? A variedade do fruto conforme a semente, a qualidade do fruto conforme a qualidade da terra. Mas há ainda aquilo que alimenta esse terreno e o torna fértil, a água que o rega, o sol que nele bate, a matéria biológica que o torna mais rico. Assim como em nós o nosso pensar, sentir, viver...
Somos terreno onde cresce o belo fruto, ou onde podem germinar ervas daninhas que impedem o fruto de crescer. E não o deixemos ao acaso, aí deveremos intervir nós: cuidar do que nasce no nosso terreno, permitir que o fruto seja cada vez melhor em força e virtude, e limpar a terra de tudo o que a esse fruto possa causar dano.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Mais uma explicação de ternura

Pin – Uma explicação de ternura
10 de Outubro (sábado)
16.00 horas
Núcleo Arqueológico da Manutenção Militar
(entre a Igreja Madre Deus e o Convento do Beato)

________ Tal como pude referir por ocasião do lançamento no Porto, Luísa Azevedo, a autora, já nos revelou belos poemas no seu blogue pin-gente, e nos comentários que gentilmente aqui nos oferece.
Fica o CONVITE para este evento que bem merece a presença de todos, agora dirigido aqui aos amigos da região de Lisboa. Se tal não for possível, não deixem de procurar esse livro, “uma mescla única de palavras e imagens, em que a poesia extravasa do papel para os sentires de quem a lê”.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Cume

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Fiz do amor o cume
De um universo de esperança
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E posso extrair do coração
O tempo de ser sempre melhor
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Paul Eluard in "Algumas das Palavras"
Tradução de António Ramos Rosa

sábado, 3 de outubro de 2009

O entardecer

Leves sejam para ti, ao entardecer,
As minhas palavras, como o rastilhar das folhas
Da amoreira, nas mãos de quem as colhe
Silencioso, e ainda se demora no lento trabalho
Ao cimo da escada, escurecendo
Junto ao tronco, que se tinge de prata
Com os seus ramos nus,
Enquanto a Lua se aproxima das soleiras
Azuladas, e estende diante de si um véu
Onde jaz o nosso sonho,
Parecendo que o tempo já se sente
Por ela submerso no gelo nocturno
E que dela já bebe a esperada paz,
Sem vê-la.

Louvado sejas, ó entardecer, pelo teu rosto de pérola,
E pelos teus grandes olhos marejados,
Onde vem desaguar a água do céu!

(...)
Gabriele d'Annunzio
(1863-1938)
O entardecer em Fiésole

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Escutas em Belém

Neste Dia Mundial da Música proponho escutar música! E se a quiserem escutar em Belém, ao vivo e com entrada livre, proponho o programa do Museu da Presidência da República a propósito do seu 5º aniversário! Hoje teremos Maria João e Mário Laginha, e a Escola de Jazz do Hot Clube!

Mais a norte, a Casa da Música terá palcos itinerantes pelas ruas do Porto, em autocarros, envolvendo cerca de 150 músicos!

E já agora, abra essa garrafa e brindemos a este dia!