quarta-feira, 24 de março de 2010

Descubra a diferença

Não compro CDs ou DVDs de música barroca sem ser interpretada com instrumentos idênticos aos da época, e interpretada de acordo com o rigor estilístico do que hoje sabemos sobre a música dessa época (de 1600 a 1750).
Não se trata de uma birra, musicalmente faz toda a diferença! As grandes massas orquestrais e interpretações ao estilo romântico, desvirtuam completamente as obras. Vamos fazer aqui uma comparação usando a conhecida Ária da Suite de Orquestra Nº3, BWV 1068.
Uma orquestra moderna - reparem na uniformidade sonora e na ausência de fraseado e da característica ornamentação típica do barroco. Parece um discurso quase sem pontuação! E reparem que escolhi a versão de um conceituado maestro que todos conhecem: Herbert von Karajan.




Agora uma interpretação autêntica (em instrumentos e em estilo), tocada por Amsterdam Baroque Orchestra, dirigida por Ton Koopman. Reparem na clareza das linhas melódicas, o diálogo entre os instrumentos, a riqueza das subtilezas tão elegantemente criadas pela ornamentação, a suavidade das cordas (de tripa, como na época), o cuidado nas arcadas... tudo é diferente! Esta é a música barroca!


Acredito que para alguns ouvidos ainda "presos" às interpretações de tradição romântica, seja mais fácil ouvir a versão com instrumentos modernos. Mas olhem que não era assim que se tocava na época de Bach... comparando com um quadro, diria que esta interpretação é uma reprodução próxima do original, enquanto a anterior não é mais que um cartaz (bastante ampliado!).

12 comentários:

  1. É bem verdade tudo o que dizes. Contudo, eu não sou assim tão dogmático. Para mim uma das provas (se tal fosse necessário) da qualidade daquela música é precisamente o facto de resistir às interpretações diversas e às mudanças de estilo que se operaram ao longo de 3 séculos. Se a versão de Goebel é mais autêntica, a de Karajan não é menos bela só por ser «romântica».
    Como o «barroco» Frans Bruggen afirmou a propósito da interpretação da paixão S.S. Mateus de Karajan, pode não ser uma interpretação de acordo com os cânones actualmente aceites, mas não deixa por isso de ser uma grande interpretação.
    Abraço
    João Zeferino

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  2. Sim, João, não sou radical. Aceito uma boa interpretação com instrumentos modernos, e poderei até sentir algum agrado na sua audição. Mas encaro isso da mesma forma que tocar Bach em Piano em vez de Cravo. Contudo, seria possível fazer uma interpretação mais próxima da intenção do autor, mesmo com instrumentos modernos. Bastaria que os músicos e o maestro que os dirige dessem mais atenção à instrumentação, principalmente na quantidade, à articulação (forma como se ligam ou destacam as notas) e às arcadas (movimentos do arco nos instrumentos de corda).

    Obrigado pela tua opinião!

    Abraço

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  3. Ah! A versão de Karajan é mesmo uma "grande" interpretação! Demora mais 1 minuto e meio! :)

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  4. LOL. Essa faz-me lembrar a interpretação da Valsa do Minuto, que dura quase dois, tocada em 30 seg :-). Concordo contigo (outra vez). Aliás a tal versão da Paixão com Karajan a dirigir é impossível de se ouvir de tal modo soa desfasada. Mas é um bom exemplo do quão diferentes podem ser as abordagens de um mesmo tema. Já agora, eu adoro Bach em piano... ;-)
    João Zeferino

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  5. Confesso que comecei a olhar para o relógio no final do 4º minuto da versão de Karajan...Prefiro sem dúvida a versão barroca de Goebel.
    Mas, interpretações à parte, considero que a utilização de instrumentos de época é uma arte em si. Os violinos barrocos rapidamente perdem a afinação, sendo frequente assistir à sua correcção por parte do instrumentista, entre andamentos. Fazer soar uma flauta transversal barroca é arte! Ouvi há pouco tempo, na Gulbenkian, o Concerto Brandeburgês n.º 5 numa versão ‘em surdina’. E o trompete barroco? É aflitivo assistir à “ginástica” do trompetista para acertar nas notas!
    Gostei deste exercício de comparação! Deixo aqui a minha homenagem à genialidade do mestre de Leipzig.
    Pedro Fernandes

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  6. Olá Zé Rui

    nada percebo de musica... a não ser que esta Ária, é, sem duvida, a musica da minha vida... e esta interpretação barroca emocionou-me muito mais do que a primeira...despertou mais os meus sentimentos e sentidos...

    obrigada pela partilha
    Bjs
    claudia

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  7. Estou a gostar de todos estes comentários. Bons argumentos apresentados pelos intervenientes! Vou referir-me apenas ao último comentário (de Claudia)que disse: "nada percebo de música..." é uma afirmação que se muito se diz, mas não fica nada bem! Porque será que as pessoas nunca dizem "nada percebo nada de literatura, ou nada percebo de teatro, ou nada percebo de pintura, ou nada percebo de cinema, ou nada percebo de matemática, de química, de física..."?! Estamos muito habituados, em Portugal, ouvir de políticos, de gente que dirige entidades culturais "nada percebo de música"! Até parece que fica bem dizer-se isso, mas certo é que isso já agride quem vive na música! De música todos devemos perceber, até porque a vida não faz sentido sem ela!!! Foi apenas um desabafo, sem ofensa!
    Francisco Luís Vieira

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  8. É assim, caro Luís Vieira...
    Mas creio que as pessoas só querem dizer que não são muito especializadas! No fundo há música em todos os que a ouvem, e o que nós ambicionamos é que as pessoas a apreciem e gostem, tenham maior ou menor formação musical.

    Já agora, aqui fica uma ligação para o ensemble que o amigo Luís Vieira dirige:
    Ensemble Palhetas Duplas

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  9. e como tu sabes eu aqui estive encantada... onde arranjaste tu esta maravilhosa versão?
    quando andei a procurar nem encontrei a versão na totalidade.
    apetece-me alterar, josé rui.
    obrigada, obrigada!
    abraço-te
    luísa

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  10. Luísa (Pin), fartei-me de procurar também, e tive a sorte de encontrar esta versão! Logo uma das minhas favoritas!
    Vais alterar no blogue? Pois se te agrada, não ficará nada mal lá. Eu gosto!
    Senti-me abraçado, outro para ti também! :)

    Fátima (Contracenar), está muito certa no que diz, não é disparate nenhum! As notas da pauta são as mesmas, mas há muitas formas de as interpretar. Podemos comparar com um poema: o mesmo texto dito por diferentes pessoas, soará de diferente forma.
    Um abraço para si, Fátima!

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  11. Ah, Fátima! Afinal não foi de "Contracenar" mas sim do "Nuance"! Já estava tão habituado ao outro... :)

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  12. Queria precisamente dizer que não sou muito especializada... e que respeito muito quem o é... e que gostaria de ser :-)

    Não importa! O que importa é que amo a musica e nao conseguiria viver sem ela!

    beijo Zé Rui
    claudia

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